domingo, 15 de maio de 2011

Para Refletir: 13 de maio/20 de novembro

Sabemos que o movimento negro questiona o 13 de maio, resolveram abolir essa data que remete a comemoração oficial da abolição da escravatura, argumentam que no dia seguinte foram jogados na sociedade sem moradia, trabalho, indenização. Marginalizados sem nenhum direito, a abolição não ocorreu de fato. O movimento negro reivindica o 20 de novembro dia da morte do quilombola Zumbi do Palmares como referência da luta do povo negro.
Para refletir a situação do afrodescendente no Brasil escolho a canção Negro Drama. Essa música reflete a experiência de um povo. Se as canções de Chico Buarque são como um hino para refletirmos um período da história do país marcado pela ditadura a canção Negro Drama dos Racionais é um hino para os negros que lutam por uma vida mais digna, os moradores das periferias do Brasil se identificam com a letra e não vou nem mencionar o significado da batida, do ritmo que é também genial. Os Racionais são um fenômeno nacional, venderam um milhão de copias só com o disco “Sobrevivendo no inferno”, de 1977. Importante destacar que foi uma produção desvinculada das grandes gravadoras.
Sou questionada quando termino minha fala dizendo que o rap é doce, as pessoas dizem que o rap não é doce, ou que não gostam de rap sem ao menos ter escutado, argumentam que é violento e que faz apologia ao crime, sem prestarem atenção na proposta dos rappers. Quando o rapper brasileiro canta sobre o crime , ele o crítica, e disseca verbalmente as razões e os fatores sócio-econômicos que contribuem para a existência deste; o rapper brasileiro tenta oferecer soluções para os problemas deste país, como vemos nas músicas do Xis, Realidade Cruel e Apocalipse 16.
Inverto o significado e provoco chamando MV Bill e Mano Brown de Doces Bárbaros. Situo as propostas defendidas por estes poetas do urbano da seguinte maneiro: Quem disse que rap não é doce se enganou. Doce é o projeto defendido pelos rappers Mv Bill e Mano Brown, a proposta de lutar contra as desigualdades, contra o preconceito. Doce é utilizar-se da expressão poética para chamar atenção da população, das autoridades transformando o verbo em ação política de um fazer carregado de compromisso ético. Doce é saber utilizar o poder das palavras para uma das causas mais belas, doce é a preocupação de dar voz as minorias, aos excluídos cotidianamente de um sistema cruel que aleija os indivíduos de suas necessidades mais básicas como, saúde, educação, moradia, trabalho e lazer. Doce é o rap que é jorrado em forma de som, transformado em música. É pela virtude destas palavras que o movimento em que militam tem força, minam o cotidiano ganhando projeção na mídia. Doce é ver rappers travestidos em agentes ativos, eficazes que não precisam de armas em sua luta, suas vozes, suas canções lhe bastam. Doce é poder constatar apesar de todo o preconceito com a população pobre principalmente de negros da periferia sobrevive e se impõe em relação a outras formas de viver, uma oralidade negra, uma musicalidade negra que conserva sua força e vitalidade. Essa força e vitalidade são mantidas e realimentadas por homens que apesar de não serem doces produzem mel em forma de poesia, melodias em que o verbo permite a passagem de canções cheias de emoção e protesto em doce poesia.

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